A ida do IBS à Barreirinhas (MA) em outubro trouxe um desafio diferente para a equipe. Sempre pintamos um mural novo dentro da biblioteca da escola que recebe a ação, para tornar o espaço de leitura mais lúdico e atrativo.
Mas, dessa vez, a história era outra. Era preciso deixar algum legado a tantas escolas e comunidades que o IBS visita, ano a ano. Dessa forma, seria necessário pintar um novo mural a cada dia, para que todos tivessem esse legado em seus espaços literários.
Além das dificuldades logísticas, o tempo seria o principal inimigo da dupla encarregada dessa missão.
Sabendo disso, Rociânia Barreto e Diogo Salles tiveram de testar a sintonia desta parceria ao limite, tirando proveito dos pontos fortes de cada um, individualmente. Ela, com a pesquisa da cultura local, com a pintura das vegetações nativas e no trabalho com texturas e grafismos. Ele, com os esboços dos desenhos, com a pintura dos personagens e no trabalho conceitual, tirando proveito de sua experiência prévia com charges e cartuns.
A seguir, acompanhe, dia a dia, este desafio sendo traçado e colorido nas cinco localidades.
No primeiro dia, na escola Socorro Gonçalves, em Barreirinhas, ainda na fase do esboço das ideias, faltava alguém da comunidade ou da escola vir trazer alguma história ou personagem, que servisse de inspiração para a arte. Não mais que cinco minutos depois, entrou ali Cleonicy Conceição, a professora que daria o nome à esta nova biblioteca. Pronto! Já tínhamos a ideia central, e usamos fotos antigas dela como referência. Veja a transformação nas imagens ao lado.
No segundo dia, na comunidade Tapuio, o desafio era bem diferente: os espaços externos na escola precisavam ser revitalizados e o tempo era ainda mais curto. Era preciso ser bem objetivo, então revitalizamos a árvore de um lado, e pintamos um Bumba-meu-boi estilizado, referência da cultura local, na parede em frente, como se fosse um diálogo.
O terceiro dia, em Bar da Hora, seguiu a mesma lógica: duas paredes diferentes. Enquanto Rociânia pintava a árvore com os caixotes (tente pintar uma árvore num fundo verde – não é nada fácil!), Diogo cuidava da tão prometida caricatura de Raimundo Nunes, ex-diretor da escola Zizina Oliveira que, infelizmente, nos deixou durante a pandemia. Além desta bela homenagem (saiba mais sobre ela na seção ‘Minha História’ desta edição), ainda houve tempo para pintar uma terceira parede no corredor, que Rociânia comandou, com a ajuda de alguns alunos voluntários.
Para o quarto dia de trabalho, em Mandacaru, já havia uma ideia na cabeça: de um lado, pintar o farol, que fica ali em frente à escola; e do outro lado, um grande cacto, pela representatividade que têm na região. E o personagem central não demorou a vir: o jegue, figura onipresente nas estradas do povoado. Mas havia um problema: pintar personagens em cima de azulejos não fica bom. A solução encontrada foi desenhar um jegue com um estilo cartum e colocá-lo em cima de um caixote de livros.
E finalmente, no quinto e último dia, uma parada especial e obrigatória: a escola Antônio Diniz, construída pelo IBS no povoado de Croas em 2012. Ano após ano, ficava a vontade de colorir algum espaço na escola, mas o projeto era sempre adiado. Agora, a hora tinha chegado. O tema da arte não poderia ser outro: a construção da própria escola, com o logo do IBS representando esse ritual de passagem, de uma escola de taipa para uma escola de alvenaria, com os caixotes acompanhando essa transformação.
Quando a maratona terminou, o cansaço cobrou sua conta, mas a recompensa foi muito maior. “Essas paredes todas estarão intactas daqui dez anos”, previu Luis Salvatore. Este será o teste do tempo no longo prazo. Por ora é esperar que, a partir desses espaços, surjam novas histórias!
“Trabalhamos numa sintonia perfeita, a ponto de um complementar as ideias do outro. Seria mais fácil apenas pregar os caixotes e desenhar folhagens em volta, mas queríamos deixar legados importantes ali. Mesmo com o tempo jogando contra nós, entregamos artes com qualidade, conceito e significado.” – Diogo Salles
“Das paredes brancas e cinzas para um ambiente novo, cheio de cores e significado para comunidade local, dando voz e representatividade através do desenho e da pintura. Compartilhamos um legado de saberes para incentivar a prática leitora e artística na escola.” – Rociânia Barreto